Esta
semana iremos apresentar o texto do professor doutor Glaucio José Marafon,
coordenador do NEGEF, sobre a importância dos grupos de pesquisa na formação do
profissional de Geografia.
A Importância dos Grupos de Pesquisa na Formação dos
Profissionais de Geografia
Glaucio José Marafon
Miorin (2005) demonstrou que a
institucionalização dos grupos de pesquisa no Brasil, através do CNPq, com a
ampliação e atualização dos mesmos, é uma prática que tem consolidado a
pesquisa no país. Esses grupos são responsáveis por grande parte das
investigações realizadas na atualidade e também pela formação de inúmeros
pesquisadores. (MARAFON, 2006)
Destarte, comungamos com Yázigi
(2005) que destaca que o fundamental no avanço do conhecimento científico é a
capacidade do pesquisador apresentar criatividade, e os grupos de pesquisa
podem contribuir para que os futuros profissionais desenvolvam a habilidade da
criatividade, permitindo a reflexão e o questionamento de paradigmas. Os grupos
de pesquisa podem contribuir para que outros olhares sejam efetuados e que
novas ideias possam surgir.
Os grupos de pesquisa, no nosso
entendimento, e aqui, vamos relatar a experiência do grupo que faço parte – o Núcleo
de Estudos de Geogerafia Fluminense – NEGEF – podem se tornar o diferencial na
formação dos acadêmicos interessados em uma investigação científica, com a
possibilidade de uma educação complementar de qualidade.
O NEGEF, alocado ao Departamento de
Geografia da UERJ, foi criado em 1997 com o objetivo de aprofundar os estudos
sobre nosso estado. A proposta do núcleo é possibilitar a formação de
profissionais em geografia e que, ao longo do curso, possam somar conhecimentos
e experiências práticas.
Em nosso núcleo, o processo de
iniciação e amadurecimento como pesquisador tem sido construído através de
diversas experiências: organização e realização de trabalhos de campo,
aprofundamento de estudos através de leituras (e constantes debates), pesquisas
em bibliotecas, levantamento e organização de dados em fontes primárias e
secundárias, contatos interinstitucionais, organização de palestras, seminários
internos, participação em eventos científicos dentro e fora da UERJ, realização
de atividades de extensão, entre outros.
Priorizamos, em nossas
investigações, a questão da organização do espaço e das políticas espaciais no
estado do Rio de Janeiro e mesmo compreender qual a estratégia especial a ser
seguida pelo nosso estado.
Em nosso núcleo, o processo de
iniciação e amadurecimento como pesquisador tem sido construído através de
diversas experiências, entre as quais destacamos:
a)
Aprofundamento de estudos através de leituras (e constantes debates): Leituras
semanais sobre temas variados – aqui buscamos mostrar a diversidade de opiniões
sobre o mesmo tema – e leituras que não se restrigem ao espaço agrário e nem a ciência
geográfica – busca-se aqui mostrar a diversidade,
a complexidade e as possibilidades que podem orientar as
pesquisas. Nesse sentido, as leituras passam, além da geografia pela
sociologia, economia, história, agronomia entre outras áreas do conhecimento –
além de sempre termos presente à necessária
reflexão sobre a construção do conhecimento científico e da ciência geográfica,
com reflexões teóricas, metodológicas e temáticas. Buscamos, assim, contribuir
para uma formação sólida no campo geográfico e na busca do diálogo com outras ciências.
Gostaríamos aqui de destacar a preocupação de Demo (2002, p.356-66) que também
é nossa, com o cuidado metodológico, pois:
constitui-se
em procedimento formativo dos mais indispensáveis, porque pode contribuir para
a predominância da autoridade do argumento sobre o argumento de autoridade [...]
Cursos que não acentuam o cuidado metodológico facilmente se perdem em
ativismos ou em coletas justapostas de teorias e métodos, sem a devida reflexão
e reconstrução própria.
b) Organização e realização de
trabalhos de campo, que são fundamentais para permitir a continua reflexão e
produção do conhecimento. Temos a prática de efetuar constantes trabalhos de
campo, nos municípios fluminense – já estivemos em todos os municípios do
interior – e verificar empiricamente os processos e teorias discutidas. Os
trabalhos de campo são fundamentais na formação acadêmica. Os nossos alunos
participam da montagem – roteiro – quem entrevistar, quais aspectos observar e
nas atividades de campo. É gratificante verificar como os mesmos reagem à
realidade encontrada em campo.
Ressaltamos a importância do
trabalho de campo, na formação do profissional de geografia. O trabalho de
campo como técnica de análise pode ser realizado em qualquer paisagem, seja
rural ou urbana, e utilizado para a obtenção de informações sobre a importância
das relações espaciais. Uma das funções mais importantes dos trabalhos de campo
é o de transformar as palavras, os conceitos em experiências, em acontecimentos
reais para a concretização dos conteúdos trabalhados em aula. Portanto, através
da observação e realização de entrevistas, questionários, os pesquisadores e
alunos irão apreendendo a realidade.
Assim,
nas palavras de Minayo (2002), o campo e, para nós da geografia, a paisagem,
refere-se ao recorte que o pesquisador faz em termos de espaço. Representa uma
realidade empírica a partir de uma concepção teórica que fundamenta a investigação.
Dessa forma, temos que ter alguns cuidados para a realização dos trabalhos de
campo (MINAYO, 2002):
1) Aproximação – o
cuidado em efetuar a aproximação com a população da
área estudada;
identificação.
2) Apresentação da
proposta de estudo. Explicitar para que serve os
questionamentos
efetuados.
3) Postura do
pesquisador frente ao problema a ser estudado. Estar aberto ao
dialogo e novas
realidades encontradas. Sem idéias pré-concebidas.
4) Necessidade de um
Diário de Campo. É necessário efetuar o registro das
observações, das
entrevistas e desenhos efetuados. Atualmente temos o recurso de gravar, filmar
e fotografar, mas sempre com autorização. Devemos sempre lembrar que o
pensamento é comum, mas os comentários e as anotações são de cada um. Assim, o
Diário de Campo é mais que um simples registro de fatos, ele reflete a memória
do pesquisador para que as informações sejam analisadas em profundidade.
5) Necessidade de se
efetuar um relatório de campo, no qual deverão constar, objetivos, planejamento
e reflexões relevantes observadas em campo. Gostaríamos de terminar essa menção
sobre a importância dos trabalhos de campo com as palavras de Correa (1996, p.
5) quando afirma que
o trabalho de campo não deve se tornar uma
armadilha para o geógrafo a partir das paisagens e relações espaciais cada vez
mais complexas e escamoteadoras. Deve ser, agora de forma mais crítica e
teoricamente mais fundamentada, como foi no passado um dos principais meios
através do qual o geógrafo aprende a ver, analisar e refletir sobre o
infindável movimento de transformação do homem em sua dimensão espacial.
c) Pesquisas em
bibliotecas levantamentos e organização de dados em fontes primárias e
secundárias. Trabalhar com organização de dados e sua representação e interpretação.
É fundamental, ainda que tenhamos o recurso à internet, o levantamento de dados
em Bibliotecas. Somos privilegiados, pois temos acessos a várias bibliotecas: Nacional,
Fundação Getúlio Vargas, Gabinete Real Português, BNDS, IPEA, Arquivo Nacional,
IBGE, além das várias Universidades. Busca de dados secundários no IBGE, Fundação
CIDE, IPEA, FGV, CNA, EMATER, FIRJAN, etc. Como trabalhamos com o espaço é
importante a representação e interpretação dos dados.
d) Contatos
interinstitucionais. Estimulamos o contato com órgãos como EMATER, SEBRAE,
FIRJAN, IBGE, para que os mesmos tenham contato com pesquisadores dessas
instituições e possam trocar informações e experiências.
e) Organização de
palestras, seminários internos, para a socialização dos
resultados obtidos
nas pesquisas.
f) Participação em
eventos científicos dentro e fora da UERJ.
g) Realização de
atividades de extensão, entre outros. Importante no sentido de uma formação
complementar e mostrar como todo o conhecimento produzido na academia pode ter
uma contribuição social. Elaboramos Atlas Geográficos Municipais – Quissamã,
Nova Friburgo, Macaé e Cabo Frio – e a ser realizado os de Búzios, Mangaratiba
e Arraial do Cabo. Disponibilizamos os Atlas e procuramos ministrar cursos para
os professores desses municípios. Todas
essas etapas têm contribuído para a formação de profissionais em geografia e
nesse sentido acredito na importância dos grupos de pesquisa na formação de
futuros profissionais de geografia engajados socialmente e nas inúmeras
possibilidades que os grupos podem proporcionar aos mesmos. Pois a prática de
pesquisa
tem demonstrado não só a importância de se
fazer ciência, como igualmente sua face formativa, educativa e emancipatória. A
arte de saber pensar é em grande parte a arte da cidadania. Cuidado
metodológico não se encerra na lide científica, mas se constitui profundamente
o processo formativo de alunos e professores. (DEMO, 2002, p.366)
Destarte,
estimulamos nossos alunos e, apontamos que a caminhada é longa e feita também
de insucessos, mas que através de tentativas eles atingirão seus objetivos e desenvolverão
suas pesquisas.
Observações Finais
Acreditamos
assim, que os grupos de pesquisa, que investigam o espaço rural, possibilitam a
reflexão sobre os temas da ciência geográfica e contribuem para a formação de
profissionais de geografia, que sejam criativos e possam contribuir com uma
reflexão teórico-metodológica sólida, contribuindo para o debate sobre a
geografia agrária brasileira (PESSÔA, 2005). Mais que um espaço
institucionalizado, os grupos de pesquisa deveriam estar comprometidos com a
formação de geógrafos que desenvolvam sua criatividade e auxiliem no avanço da
construção do conhecimento e na
construção de um
espaço geográfico mais solidário. Acreditamos assim, que os grupos de pesquisa
em geografia agrária (mas não só) possibilitam a reflexão sobre os temas da realidade
agrária brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário