quarta-feira, 28 de março de 2012

A Importância dos Grupos de Pesquisa

 Esta semana iremos apresentar o texto do professor doutor Glaucio José Marafon, coordenador do NEGEF, sobre a importância dos grupos de pesquisa na formação do profissional de Geografia.

A Importância dos Grupos de Pesquisa na Formação dos Profissionais de Geografia
Glaucio José Marafon

            Miorin (2005) demonstrou que a institucionalização dos grupos de pesquisa no Brasil, através do CNPq, com a ampliação e atualização dos mesmos, é uma prática que tem consolidado a pesquisa no país. Esses grupos são responsáveis por grande parte das investigações realizadas na atualidade e também pela formação de inúmeros pesquisadores. (MARAFON, 2006)
            Destarte, comungamos com Yázigi (2005) que destaca que o fundamental no avanço do conhecimento científico é a capacidade do pesquisador apresentar criatividade, e os grupos de pesquisa podem contribuir para que os futuros profissionais desenvolvam a habilidade da criatividade, permitindo a reflexão e o questionamento de paradigmas. Os grupos de pesquisa podem contribuir para que outros olhares sejam efetuados e que novas ideias possam surgir.
            Os grupos de pesquisa, no nosso entendimento, e aqui, vamos relatar a experiência do grupo que faço parte – o Núcleo de Estudos de Geogerafia Fluminense – NEGEF – podem se tornar o diferencial na formação dos acadêmicos interessados em uma investigação científica, com a possibilidade de uma educação complementar de qualidade.
            O NEGEF, alocado ao Departamento de Geografia da UERJ, foi criado em 1997 com o objetivo de aprofundar os estudos sobre nosso estado. A proposta do núcleo é possibilitar a formação de profissionais em geografia e que, ao longo do curso, possam somar conhecimentos e experiências práticas.
            Em nosso núcleo, o processo de iniciação e amadurecimento como pesquisador tem sido construído através de diversas experiências: organização e realização de trabalhos de campo, aprofundamento de estudos através de leituras (e constantes debates), pesquisas em bibliotecas, levantamento e organização de dados em fontes primárias e secundárias, contatos interinstitucionais, organização de palestras, seminários internos, participação em eventos científicos dentro e fora da UERJ, realização de atividades de extensão, entre outros.
            Priorizamos, em nossas investigações, a questão da organização do espaço e das políticas espaciais no estado do Rio de Janeiro e mesmo compreender qual a estratégia especial a ser seguida pelo nosso estado.
            Em nosso núcleo, o processo de iniciação e amadurecimento como pesquisador tem sido construído através de diversas experiências, entre as quais destacamos:
a) Aprofundamento de estudos através de leituras (e constantes debates): Leituras semanais sobre temas variados – aqui buscamos mostrar a diversidade de opiniões sobre o mesmo tema – e leituras que não se restrigem ao espaço agrário e nem a ciência geográfica – busca-se aqui mostrar a diversidade, a complexidade e as possibilidades que podem orientar as pesquisas. Nesse sentido, as leituras passam, além da geografia pela sociologia, economia, história, agronomia entre outras áreas do conhecimento – além de sempre termos presente à necessária reflexão sobre a construção do conhecimento científico e da ciência geográfica, com reflexões teóricas, metodológicas e temáticas. Buscamos, assim, contribuir para uma formação sólida no campo geográfico e na busca do diálogo com outras ciências. Gostaríamos aqui de destacar a preocupação de Demo (2002, p.356-66) que também é nossa, com o cuidado metodológico, pois:
constitui-se em procedimento formativo dos mais indispensáveis, porque pode contribuir para a predominância da autoridade do argumento sobre o argumento de autoridade [...] Cursos que não acentuam o cuidado metodológico facilmente se perdem em ativismos ou em coletas justapostas de teorias e métodos, sem a devida reflexão e reconstrução própria.
            b) Organização e realização de trabalhos de campo, que são fundamentais para permitir a continua reflexão e produção do conhecimento. Temos a prática de efetuar constantes trabalhos de campo, nos municípios fluminense – já estivemos em todos os municípios do interior – e verificar empiricamente os processos e teorias discutidas. Os trabalhos de campo são fundamentais na formação acadêmica. Os nossos alunos participam da montagem – roteiro – quem entrevistar, quais aspectos observar e nas atividades de campo. É gratificante verificar como os mesmos reagem à realidade encontrada em campo.
            Ressaltamos a importância do trabalho de campo, na formação do profissional de geografia. O trabalho de campo como técnica de análise pode ser realizado em qualquer paisagem, seja rural ou urbana, e utilizado para a obtenção de informações sobre a importância das relações espaciais. Uma das funções mais importantes dos trabalhos de campo é o de transformar as palavras, os conceitos em experiências, em acontecimentos reais para a concretização dos conteúdos trabalhados em aula. Portanto, através da observação e realização de entrevistas, questionários, os pesquisadores e alunos irão apreendendo a realidade.
Assim, nas palavras de Minayo (2002), o campo e, para nós da geografia, a paisagem, refere-se ao recorte que o pesquisador faz em termos de espaço. Representa uma realidade empírica a partir de uma concepção teórica que fundamenta a investigação. Dessa forma, temos que ter alguns cuidados para a realização dos trabalhos de campo (MINAYO, 2002):
1) Aproximação – o cuidado em efetuar a aproximação com a população da
área estudada; identificação.
2) Apresentação da proposta de estudo. Explicitar para que serve os
questionamentos efetuados.
3) Postura do pesquisador frente ao problema a ser estudado. Estar aberto ao
dialogo e novas realidades encontradas. Sem idéias pré-concebidas.
4) Necessidade de um Diário de Campo. É necessário efetuar o registro das
observações, das entrevistas e desenhos efetuados. Atualmente temos o recurso de gravar, filmar e fotografar, mas sempre com autorização. Devemos sempre lembrar que o pensamento é comum, mas os comentários e as anotações são de cada um. Assim, o Diário de Campo é mais que um simples registro de fatos, ele reflete a memória do pesquisador para que as informações sejam analisadas em profundidade.
5) Necessidade de se efetuar um relatório de campo, no qual deverão constar, objetivos, planejamento e reflexões relevantes observadas em campo. Gostaríamos de terminar essa menção sobre a importância dos trabalhos de campo com as palavras de Correa (1996, p. 5) quando afirma que
o trabalho de campo não deve se tornar uma armadilha para o geógrafo a partir das paisagens e relações espaciais cada vez mais complexas e escamoteadoras. Deve ser, agora de forma mais crítica e teoricamente mais fundamentada, como foi no passado um dos principais meios através do qual o geógrafo aprende a ver, analisar e refletir sobre o infindável movimento de transformação do homem em sua dimensão espacial.
c) Pesquisas em bibliotecas levantamentos e organização de dados em fontes primárias e secundárias. Trabalhar com organização de dados e sua representação e interpretação. É fundamental, ainda que tenhamos o recurso à internet, o levantamento de dados em Bibliotecas. Somos privilegiados, pois temos acessos a várias bibliotecas: Nacional, Fundação Getúlio Vargas, Gabinete Real Português, BNDS, IPEA, Arquivo Nacional, IBGE, além das várias Universidades. Busca de dados secundários no IBGE, Fundação CIDE, IPEA, FGV, CNA, EMATER, FIRJAN, etc. Como trabalhamos com o espaço é importante a representação e interpretação dos dados.
d) Contatos interinstitucionais. Estimulamos o contato com órgãos como EMATER, SEBRAE, FIRJAN, IBGE, para que os mesmos tenham contato com pesquisadores dessas instituições e possam trocar informações e experiências.
e) Organização de palestras, seminários internos, para a socialização dos
resultados obtidos nas pesquisas.
f) Participação em eventos científicos dentro e fora da UERJ.
g) Realização de atividades de extensão, entre outros. Importante no sentido de uma formação complementar e mostrar como todo o conhecimento produzido na academia pode ter uma contribuição social. Elaboramos Atlas Geográficos Municipais – Quissamã, Nova Friburgo, Macaé e Cabo Frio – e a ser realizado os de Búzios, Mangaratiba e Arraial do Cabo. Disponibilizamos os Atlas e procuramos ministrar cursos para os professores desses municípios.      Todas essas etapas têm contribuído para a formação de profissionais em geografia e nesse sentido acredito na importância dos grupos de pesquisa na formação de futuros profissionais de geografia engajados socialmente e nas inúmeras possibilidades que os grupos podem proporcionar aos mesmos. Pois a prática de pesquisa
tem demonstrado não só a importância de se fazer ciência, como igualmente sua face formativa, educativa e emancipatória. A arte de saber pensar é em grande parte a arte da cidadania. Cuidado metodológico não se encerra na lide científica, mas se constitui profundamente o processo formativo de alunos e professores. (DEMO, 2002, p.366)
Destarte, estimulamos nossos alunos e, apontamos que a caminhada é longa e feita também de insucessos, mas que através de tentativas eles atingirão seus objetivos e desenvolverão suas pesquisas.

Observações Finais

Acreditamos assim, que os grupos de pesquisa, que investigam o espaço rural, possibilitam a reflexão sobre os temas da ciência geográfica e contribuem para a formação de profissionais de geografia, que sejam criativos e possam contribuir com uma reflexão teórico-metodológica sólida, contribuindo para o debate sobre a geografia agrária brasileira (PESSÔA, 2005). Mais que um espaço institucionalizado, os grupos de pesquisa deveriam estar comprometidos com a formação de geógrafos que desenvolvam sua criatividade e auxiliem no avanço da construção do conhecimento e na
construção de um espaço geográfico mais solidário. Acreditamos assim, que os grupos de pesquisa em geografia agrária (mas não só) possibilitam a reflexão sobre os temas da realidade agrária brasileira.

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